domingo, 22 de novembro de 2009

O Guardador de Rebanhos

XLI

"No entardecer dos dias de Verão , ás vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Quem passa , um momento , uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas,
E os nosso sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...

Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão...
Bastar-nos-ia sentir com clareza a vida
E nem repararmos para que há sentidos...

Mas graças a Deus que há imperfeição no Munod
Porque a imperfeição é uma cousa
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos,
E deve haver muita cousa
Para termos muito que ver e ouvir..."

7-5-1914
Poemas de Alberto Caeiro - Fernado Pessoa

Um comentário:

Fernando disse...

Alberto Caeiro é uma transcendência que só. Eu amei ler não só Alberto Caeiro, mas também Ricardo Reis há já quase dois anos... cada releitura é uma relembrança.

Belo excerto!